O homem saiu do banho e pensou que hoje podia botar aquele perfume. Não era qualquer dia, né, era o casamento da grande filha dele. Grande filha não, saiu estranho isso, era o grande casamento da filha dele, a única, depois de quatro guris. Ou ela era a do meio, algo assim.
Categoria: Crônica
Porto Alegre 2005
Tinha uma coisa, em 2005, que era impedir a aprovação da ALCA, Aliança de Livre Comércio das Américas. Uma bobagem típica dos ianques, que era outra coisa que existia, em 2005, a expressão “ianque”. No Fórum Social Mundial, se falava muito mal deles. Agora meio que todo mundo aceitou que eles são os “americanos”.
E tá tudo bem. Vinte anos depois, é a expressão da moda: “tá tudo bem”.
O vendedor de cavalo
Tinha um lá que era o vendedor de cavalo. Outro empreendedor de bairro.
Só vendia. Criar, quem criava era outro, lá pra fora. Lá pra fora onde? O Albino não dizia, não sabia.
Tioquinho tattoo
Um exemplo de empreendedor moderno no bairro é o Diogo, o Tioquinho, como a mãe dele chama.
O Tioquinho é publicitário, designer, fotógrafo, essas coisas. O povo vai atrás dele quando querem abrir uma bodega, uma mercearia, uma cabeleireira. Aí ele mede o espaço entre as letras nos muros de salpico, mistura amarelo com vermelho, rosa com roxo, monta uns banners no computador, que o Tioquinho ele tem um computador.
Direto com o proprietário
Outro típico empreendedor de bairro é o cara, ou a mulher, que vive de aluguel. É quase como ser herdeiro, e às vezes é mesmo, a pessoa é herdeira, daí fecha todas.
Vou falar da dona, digamos, Evinha. Que querida, a dona Evinha. Entrava na minha área pra desvirar minhas roupas, que eu estendia assim, sabe, de cabeça pra baixo, de dentro pra fora, aí a dona ia lá e desvirava tudo pra mim, que senão ia morrer minha mãe, minha vó, minha tia.