Quando ninguém mais tinha esperança de que um dia fossem legalizar as drogas, resolveram proibir também a pizza.
Da noite pro dia, 97% da população italiana foi presa. Como não havia penitenciária pra todo esse povo, tiveram que alugar celas na Holanda, que não entrou na onda de proibição. Em Amsterdam, inclusive, criou-se o Distrito Amarelo. O Uruguai estava nessa linha também, com o governo liberando o autocultivo de queijo e a comercialização de pizza nas farmácias.
Já na República Evangélica do Brasil, além das banais notícias de pessoas que eram detidas por terem fumado um cigarrinho e bebido uma cervejinha, agora ficávamos sabendo de gente que tinha sido presa pelo porte de tomate e manjericão.
Na República Maradoniana da Argentina, estavam aplicando técnicas futebolísticas, condenando os pizzeiros a correr em campos de futebol até perderem o peso adquirido pela ingestão da iguaria. E, na Itália, finalmente iam transformar a Torre de Pizza num estacionamento panorâmico.
Me senti convocado a botar a mão na massa. Chamei uns amigos e ocupamos a Pizzaria Mangiare, na esquina de casa. Montamos barricadas de mozzarela e sacos de farinha. Mas logo surgiram rachas internos no movimento, como se vê nessa pajada, improvisada por dois companheiros em noite de assembleia:
PIZZEIRO 1
A mozzarela pode ser de búfala
Ou pode ser de vaca, sem problema
E o brócoli, que seja de estufa
Comendo pizza a luta vale a pena
PIZZEIRO 2
Pensando no combate eu aconselho
Que todos comam pizza de alho e óleo
Co bafo que dá, foge até o espelho
E resolvemos logo esse imbróglio
PIZZEIRO 1
Opa! Se é pra falar de luta armada
Eu tenho uma receita pros mais jovem
Pepino, milho e carne acebolada
Com ovo dá um perfeito molhotov
PIZZEIRO 2
Por que então não ampliar a luta
Levando em conta as causas animais?
A búfala e a vaca não têm culpa
Da gente ser irracional demais
No dia da grande greve geral, fomos preparados pra levar borracha. Só que chegamos lá e tinha até carro de som financiado pelo sindicato dos donos de pizzaria, além de helicópteros que atiravam bandeirinhas verde-amarelas com as mensagens Ocupa Pizzaria e #VemPraPizzaria.
Quando saiu a notícia de que o prato mais saboroso do cardápio universal tinha voltado a ser permitido graças a uma pizzada de paz na ONU, festejamos comendo. Mas não sei, vários companheiros seguiam desconfiados, com um gostinho de que, no fundo, tínhamos perdido. E uns ficaram torcendo, secretamente, que proibissem logo outra coisa, tipo a erva-mate, só pra terem algo estimulante pra ir contra.