Tu tirou a roupa. Olhou pela janela e a vizinha também estava se despindo. E na rua passou um motoqueiro, só de capacete, entregando uma pizza com sotaque portenho.
Aí tu saiu de casa e viu a Vênus de mamilo. Montes de montes de Vênus. Covinhas e conchinhas. Figos maduros. Penugens. E também panças, perebas, manchas. Febril sagração da primavera. Tudo em trânsito, tu em transe. Ninguém mais se olhava nos olhos. A curiosidade de todo mundo estava satisfeita. A única roupa que se usava era a camisinha.
Até que um par de seios passou a ser visto como um par de bochechas. E surgiram tatuagens de calcinhas. E as pessoas voltaram a se olhar nos olhos, buscando sacanagem na alma.
Foi um choque quando alguém apareceu vestido. Um atentado ao impudor. Logo os estudantes estavam fazendo protesto usando camisetas. Os mais radicais vestiam moletom. Guerra entre os nus normativos e a minoria vestida.
Surgiram praias de roupismo. Pervertidos que se excitavam ao ver uma japona.
De novo em casa, tu botou a roupa. Olhou pela janela e a vizinha também estava se vestindo. No céu, que indecência!, a lua voltou a ser o símbolo da inocência perdida.