O bigode é uma porção de pelo mais dura que o cabelo e mais macia que o pentelho. Nasce, cresce e, se tu não cuidar, se reproduz entre o nariz e o beiço de cima. O bigode é tão antigo quanto o jundiá e o gato. Em certas culturas, é um adorno unissex. Não sei se podemos usar a palavra “unissex” hoje em dia, quando tanta gente vive à cata de pelo em ovo mas se ofende com todo pelo que aparece. Até fizeram uma reforma ortográfica pra tirar o pelo de pelo, que era o til (e útil). Realmente os tempos mudaram e, além de sumirem os bigodes, desapareceram as definições.
Essa última é uma típica frase-bigode: retórica e reacionária.
Hoje em dia o bigode só se mantém graças a personagens como Olívio de Oliveira Dutra e Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes. O primeiro, ex-deputado dono de um chumaço de fazer inveja a Frederico Nietzsche, pode ser visto andando de ônibus em Porto Alegre, com uma bolsa de couro na qual ele guarda banha de porco e um pente de osso, objetos que Oliveira Dutra usa pra lustrar e acomodar os fios rebeldes sem causa que ele trouxe da Bossoroca. O segundo, roqueiro antiquado tardiamente incompreendido, famoso por assumir, em plena Rede Globo, que tem medo de avião, está sendo perseguido pela Interpol porque quis aplicar a ética gaúcha em São Paulo, dando fios de seu til cearense como garantia na compra de um Ford bigode, mas os afeitados paulistas não aceitaram. A última notícia recebida por esta redação aponta que Fontenelle Fernandes está em Porto Alegre, na rua Jerônimo de Ornelas, número cívico 132, apartamento 31, segunda porta à esquerda depois do banheiro.
Outro digníssimo bigodudo é o poeta José Ribamar “Sarney” Ferreira de Araújo Costa, o bigode mais importante do Brasil, autor da famosa redondilha menor “Deus seja louvado”, impressa em todos os dinheiros brasileiros desde 1985. Araújo Costa pode ser visto na televisão, no jornal, no Repórter Esso e na Academia Brasileira de Letras, onde toma chá com outros bigodes imortais, como João Ubaldo Ribeiro e Nélida Piñon, enquanto discute que pelos tirar ou botar na sopa da língua portuguesa.
O bigode sempre esteve além da neutralidade da suíça. Antigamente, ele era um signo de poder: quem é que tinha tempo de ficar fazendo curvinha na própria vibrissa? Mas o bigode, desde a raiz branca até a última pontinha enruivecida pelo fumo, serve sobretudo pra promover o ridículo.
Veja-se o caso daquele cômico inglês chamado Charles Spencer Chaplin. Ou daquele professor austríaco, Albert Einstein, que demonstrou por E = mc2 o quantum ridícula é a nossa ignorância. No Brasil, destaca-se atualmente a atuação de um ministro comunista chamado José Aldo Rebelo Figueiredo como garoto-propaganda da fábrica de camisetas chinesas Nike. Mas sem dúvida a maior contribuição para o ridículo que um bigode deu neste século foi a de Luís Felipe Scolari, técnico da seleção mais fiasquenta da história do futebol, para o opróbrio de mustachos craques como Roberto Rivellino e Valdir de Morais Filho.