A maçã

Prólogo

Era uma vez apetitosa maçã

Brilhando vermelha na luz da manhã

Mas na mesma árvore tinha uma cobra

Cuidando da fruta com muita manobra

Quisesse comer a maçã reluzente

Era preciso seduzir a serpente

Sabendo que aquilo era errado de início

E logo em seguida seria um vício

.

Canto I

Então veio a Eva todinha inocente

E disse: me dá essa maçã que eu sou crente

A cobra aceitou pois achou muita graça

Na pobre guria ignorando a ameaça

De fato, mal deu a primeira mordida

Qualquer direção se tornava saída

E cada caminho mostrava o aviso:

Não tem mais lugar pra ti no paraíso!

.

Canto II

Aí veio o Hércules todo calouro

Dizendo: eu ouvi que a maçã é de ouro

A cobra alquimista adorou a ideia

E rapidamente tramou a epopeia:

De coisa comível a maçã virou pedra

Objeto abjeto em que nem merda medra

O gênio do Hércules fez o seu nome

Mas nesse episódio ele morreu de fome

.

Canto III

Depois um arqueiro chamado Guilherme

Passou com seu filho e viu esse verme

Que era a serpente morrendo de tédio

Por não ter com quem praticar o assédio

A cobra então se encheu de esperança

De usar a maçã pra enganar a criança

Já que aquele adulto era bem mais esperto

A ponto de sequer querer chegar perto

O filho do arqueiro, quando viu a fruta

Achou que havia sentido na luta

E apesar do pai explicar o perigo

O piá só pensou no seu próprio umbigo

A cobra, genial, disse: a maçã é tua

Desde que o teu pai, do outro lado da rua

Acerte ela sobre a tua cabeça

Mas sem se vingar caso algo aconteça

E o pobre Guilherme não tinha escolha

De longe furou a maçã que nem bolha

Da fruta o piá não achou nem aresta

Mas pelo menos ele manteve a testa

.

Canto IV

Então veio a bruxa atrás de ajuda

Pedindo pra cobra uma ideia que iluda

E a cobra falou: te ofereço uma fruta

Bonita por fora e por dentro cicuta

A bruxa levou a maçã pruma mina

Só pra transformá-la em brava heroína

A Branca de Neve, como era chamada

Era uma princesinha desencantada

Um dia viria um príncipe lindo

Mas só se a guria estivesse dormindo

Então a maçã era ótima chance

De antecipar duma vez esse lance

De fato bastou só uma mordidinha

Pra mina dormir como uma menininha

E veio o tal príncipe no seu cavalo

E a Branca de Neve acordou num estalo

Assim todos foram felizes pra sempre

Menos a cobra que não gosta de quem pre-

cisa de historinha onde o bem no fim vence

Segundo a cobra isso é chato: não convence

.

Canto V

É que a serpente era muito mais científica

Via a maçã numa função magnífica

De contribuir pra explicar a mecânica

Da gravidade de maneira epifânica

Então, quando o Newton já desesperado

Chegou a pedir um milagre, coitado

A cobra jogou a maçã lá do alto

E o gênio do homem brilhou de um salto

.

Epílogo

Assim a serpente provou que no fundo

Em cada maçã cabe inteiro o mundo

Com santos, heróis, animais e amores

E agora produtos de computadores

Mas cá entre nós a maçã é incrível

Porque sobretudo é uma coisa comível

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *