Na aurora da minha vida, eu lia. Na parada do ônibus, nas filas de banco ou banheiro, até na sala de aula. Eu precisava recuperar o tempo perdido por ter nascido em Caxias, nos anos 1980, e não em Paris, em 1890… E ler em público era uma forma de me sentir menos estrangeiro, porque eu ia reconhecendo outros leitores.
Quando eu fui padre
Noventa por cento dos intelectuais serranos foram padres pelo menos uma vez na vida. Até pouco tempo atrás, entrar para um seminário era a única maneira de um filho de colonos estudar além da quarta série. Uns usavam essa boa desculpa simplesmente pra sair da roça. Outros gostaram tanto de estudar que acabaram virando professores, escritores, políticos. Talvez algum tenha virado padre de verdade.
Disputas coloniais
Toda Festa da Uva tem os Jogos Coloniais, com arremesso de queijo, corrida de carrinho de mão e pisoteamento de uva. Mas a maior disputa entre caxienses ocorre todo fim de tarde, quando os homens se encontram na bodega.
Uma noite no arquivo
A nostalgia, dizer-vos-ei, é um barato. Há que cuidar, inclusive, porque vicia. Sob aquela capa de inteligência (“Vou ali no museu olhar uns mapas”), esconde-se toda uma dinâmica tão grave quanto beber graspa às duas da tarde no Kerwald.
Porto Alegre, tchau
Como numa música do Kleiton e Kledir, um turista pegava o ônibus na sexta de tarde e ia pra Porto Alegre. Se instalava no hotel Uruguai (duas estrelas apagadas), onde havia uma sacadinha no quarto e um interruptor que acionava a Rádio Farroupilha. Aí um turista fumava um cigarro, olhando a rua melequenta e os prédios descascados, só pra se sentir num conto urbano do Sergio Faraco.