É terrível descobrir de repente que, durante a vida inteira, a gente não disse nada além da verdade. Por isso é importante roubar umas ideias dos outros, nem que chamemos isso de aprendizado.
Oscar Wilde, célebre aforismeiro, não viveu a tempo de captar o reconhecimento que o famoso prêmio americano lhe conferiria. Sempre antenado com a moda do século XIX, o dramaturgo preferiu morrer em Paris, aos vinte e sete anos, de tuberculose.
A gente precisa ser sério em alguma coisa, se queremos nos divertir um pouco na vida. O Oscar jamais perdia a piada, nem o amigo, pois fazia amigos por causa das piadas. Mesmo durante a composição de seu único romance, no qual revela os detalhes sórdidos de sua prisão naquele quadro que se deteriorava devido à baixa qualidade das tintas, que criavam rapidamente um bolor fedorento por causa da umidade de Londres, Sir Oscar Wilde buscou o humor com devoção, como fica evidente pelo seguinte trecho:
“Os artistas não querem provar nada. Até a verdade pode ser provada. Os artistas não têm simpatias éticas. Uma simpatia ética em um artista é uma afetação imperdoável”.
A responsabilidade de Oscar Wilde era com a linguagem e nada mais. Inútil ficar catando coerência em seus textos. Usá-lo como pensador de cabeceira é como escovar os dentes com iogurte. Porque a verdade raramente é pura e nunca é simples. A vida moderna seria muito chata se fosse assim. E a literatura moderna seria uma impossibilidade completa.
Na vasta terra da arte, a farsa é o caminho mais livre. Ali são permitidos inclusive trocadilhos do tipo Earnest, que significa literalmente “sincero” e soa como Ernest, um nome próprio.
Proponho que o título da peça do Oscar Wilde seja traduzido como A importância de ser Hœrnesto, para juntar o nome dos personagens e o conceito de honestidade. Tem até essa letra latina aí, meio o, meio e, que dá conta do recado fonético.
É decepcionante descobrir de repente que, durante a vida inteira, a gente só leu verdades. Por isso é importante conhecer o trabalho de Bernard Shaw.