Definições de outono

Doze de fevereiro, no bairro Floresta, às catorze horas. Entre um passo e outro, ficou frio andar pelo lado da sombra e atravessamos a rua, na direção da calçada onde se deitava o sol. 

Que o sol de outono, pálido e preguiçoso, deita e dorme pra recuperar a energia gasta no verão sobre as areias e os milharais.

Hora de descobrir que aquela árvore grande é uma castanheira, colher as castanhas, cozinhar, tostar, pensar que daqui a pouco vêm os pinhões. Calçar meias (é a meia estação por excelência). Tomar mate no sol, sentindo o cheiro quente das meias-calças da mulher amada.

Se outono é metáfora de velhice, que seja de maturidade: época de colheita, de sagra comunitária. Como diz um poema do Pozenato:

“É a hora madura

em que o homem a si mesmo saboreia,

sem afogo, em fogo lento,

que de ouro incendeia

os pomos do pomar

e a alma no almo corpo.”

O sol de outono está a cavalo entre o amarelo moranga e o branco farinha. O outono é um tortéi. 

É sempre outono no domingo e todo dia, no outono, tem um ar de que devia ser domingo. Diferentemente das outras estações, cujas definições são compreendidas por todo mundo (no verão se morre de calor, no inverno se morre de frio, na primavera se morre espirrando), no outono se vive uma certa vaguidão, uma vaguidão precisa. 

O pior ainda não começou e, por outro, já passou. Olha a sabiá que botou ovos no forro e saúda o vizinho joão-de-barro. Em cima do poste, ele espalita o bico esperando a geada. Tudo vai se acalmando no bairro. O outono é o bairro das estações.

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