Abraço pro Lucio Carvalho

O Lucio é o seguinte: baita cara.

É um cara que a gente olha assim e: comé que ele consegue fazer tanta coisa? 

Publica no facebook, no instagram, nos jornais tradicionais e num site próprio, ainda por cima.

E faz livros, ainda por cima do por cima.

Te responde rápido por telefone, por e-mail, e se tu quiser comprar livro dele ele vende, ou dá, ou troca. É um cara muito prático, simples, ágil, expedito!

Me faz escrever rápido, o Lucio. 

A produção dele: de poemas a romances históricos, de resenhas a experimentações linguísticas. O que eu mais gostei, de livro dele, foi Down House, que é uma história sobre um filho do Darwin, um menino que talvez tenha nascido com síndrome de down. O narrador é o mordomo, que permite ao Lucio ver como ele mesmo: ver muito, generoso, ver cheio de braços.

Outro texto dele que eu gostei é o conto Rodothorulla Spp. Tá na Especiaria, esse portal que o Lucio criou com alguns de seus milhares de parceiros. 

É uma história de biblioteca, a história de uma bibliotecária clássica: “filha única, órfã na infância, nascida no interior e criada por freiras num remoto convento de uma cidade de colonização germânica, na serra gaúcha.”

Uma senhora que tem problemas, digamos. Daí esse bicho, esse nome que te rói em latim ali, é um fungo, coisa viva de arquivo morto. Imagina a pessoa ser descendente de alemão da Séra e precisar lidar com fungo!

Uma trama policial, bem dizer. Porque os colegas veem que a mulher não tá bem, só que – né – são bibliotecários, não vão se meter na vida dela. Até que ela para de aparecer no serviço. 

O narrador, gentil e curioso, acompanha a polícia e encontra o seguinte, que eu acho o ápice da trama: “não obedeci as ordens e subi, reconhecendo-a imediatamente desfalecida na poltrona cercada por uma coleção de livros meticulosamente organizados em prateleiras. Livros desidentificados e que ela decidira guardar por conta própria, sem lombada todos eles, como se ela mesma as tivesse removido uma a uma”. 

Esse removido, não sei, me soa tanto como roído

Ah, essa galera da biblioteconomia!

O Borges tem lá seus ensaios sobre biblioteca universal e espelhos e labirintos, mas esse aqui, do Lucio, tinha que estar em primeiro na cadeira de Introdução à Biblioteconomia, ou à bibliofilia.

Acho ótimo que o Lucio chame o site dele, com as coisas dele, de Errata. Meio que isso permite ao autor – não a errar, não é isso – permite que ele possa ajeitar o texto pra sempre. 

Não sei se ele faz isso. Eu faço. Daí que o site do Lucio pra mim é uma referência. É um arquivo. Vivo. O Lucio seria bibliotecário mesmo se não tivesse estudado na faculdade. É o único bibliotecário que faz o que eu imagino que deva fazer um bibliotecário: organizar o mundo dos livros, inventar inventários.

É uma materialização, o Lucio. Um bibliotecário integral: leitor, escritor, editor, ajeitador de coisas nas partilera da literatura. 

Nos conhecemos quando ele fez a Sepé, uma revista literária especial porque soube reunir, organizar, um monte de gente que andava (anda?) por aí no pago. Era uma certeza, a Sepé. Tinha até issn, que os estudantes precisam, queridos. Taí outra virtude: o Lucio resolve tudo que é burocracia.

Na época da Sepé, fizemos uma conversa com ele, no programa Charla literária. Tava tendo grenal naquele dia. Pra tu ver. O cara abriu mão do grenal pra falar de literatura com uns pangaré do interior. 

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