No Condomínio Aquário

Estou escrevendo sobre o livro do Augusto Quenard porque ele é meu amigo. Não sei se vale. Mas se eu já não fosse amigo do Augusto, depois de ler o Condomínio Aquário eu ia querer ser.

Que livro brincadeira. Sério. Parece um jogo daqueles que a gente escolhe o caminho dos personagens. Com a vantagem de que o autor já fez isso por nós. Então é só sentar e curtir a viagem. 

O narrador, por exemplo. Quem é o narrador, ou narradora, do Condomínio Aquário? Eu tenho minhas hipóteses, não vou falar. Tenho impressão que qualquer coisa que eu falasse específica sobre o romance seria um desmancha-prazer. 

Mas por alto é assim: um livro de aventuras. Em Porto Alegre, digamos. Num prédio ali da Cidade Baixa ou do centro. Tu vai ler e pensar direto num prédio qualquer que tu tenha na parte marofenta da tua memória. É a universalidade do romance. Que depois é incrementada pelos personagens do teu bairro interior, aposto que parecidos com os personagens desse bairro interior chamado Condomínio Aquário.

O Tareco, herói principal. A tarefa dele é encontrar uma peça, uma chave pruma peça lá que tá estragada no prédio onde ele vai trampar de zelador. Aí ele vai conhecendo as figuras dos apartamentos, cada uma com um problema mais fantástico do que a outra. Cada uma falando de um jeito específico. Coisa linda, um romance fantástico de comédia. Um humorismo mágico. 

As relações entre os personagens, as memórias e desejos, tudo gira em torno da amizade. Ou seja, é um romance argentino, só que escrito em português, a não ser numa parte lá que talvez seja o clímax. É um romance com clímax.

Tenho especial afeto por esse romance porque vi o Augusto ter a ideia de escrevê-lo, décadas atrás. Depois vi ele escrever, mudar de plano, discutimos todas as regrinhas oulipianas que ele usou no romance, num espírito assim de Raymond Queneau, de Italo Calvino. Tem uns segredos aí pra vocês descobrirem. Só vou entregar que o nome do Tareco ele pegou dum gato que tinha lá na casa do meu pai.

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