Colônia é uma província multilíngue localizada no sul do Brasil. Municípios notáveis: Anta Gorda, Palma Sola, Céu Azul. Mas colônia é também uma medida agrária, 25 hectares. “Os Schneider se compraro uma colônia em Morro Reuter”.
Colono é o habitante ou oriundo da Colônia. Um interiorano, um sertanejo descendente de alemães, italianos, polacos, russos, suíços. “Um colono me disse que vai dar geada”. Pode ser agricultor, mas não é obrigatório. Há registros de colonos que são motoristas de patrola na prefeitura.
Gringo é o descendente de italiano. Alemão é o descendente de alemão. “Alemão batata, gringo polenteiro.”
Nona/nono é vó e vô. Nena/neno/nene, os netinhos.
Capela é a vila colona, a subdivisão de um distrito. “Ma tu é de qual capela? São João ou São José?” Comunidade é aquele salão do lado da igreja. “Sábado tem baile na comunidade”.
Tem também o termo linha, no sentido de capela. “Amanhã tem jogo na Linha 40”. Já o termo légua dá conta de uma área maior, composta por várias capelas e linhas. O bom é que isso tudo é medido em braças de sesmaria, que todo mundo sabe o que é. Pela mesma razão, pouparemos os leitores da definição de eitos e alqueires.
A última noção de geografia que daremos é sobre a cerração (neblina), com c de camadona, xingamento comum nos alpes colonos, onde tem cerração trezentos dias por ano. A versão alemoa é tipo “Ach Scheißdreck!”
Não confundir cerração com serração, coisa que os colonos faziam muito, antes de acabarem com a mata nativa.
O nome desse negócio de xingar é bestema, pecado tão grave quanto sentar ao lado das mulheres na missa. As mais famosas bestemas são com a palavra dio: “Codíone, mas teu concunhado não sabe rachar uma lenha!”
Concunhado é um título de nobreza colona equivalente ao de visconde, entre os portugueses.
O colono é tão fissurado no trabalho que chega a estabelecer uma nítida distinção entre carpir, que é limpar o terreno, e capinar, que é limpar o terreno. E óbvio que ciscar e rastelar não são a mesma coisa: “Ciscar você só cisca, rastelar você rastela pra tirar tudo o lixo”.
Mas se ele quer que uma planta vingue, cresça forte e frutifique, aí ele taca-lhe veneno, que no dialeto colono se chama tratamento.
O colono trabalha mais por mania do que por necessidade. Dinheiro eles têm, escondido no colchão, que eles chamam de Sicredi. Mas deus o livre gastar. A não ser com camionete.
Quanto à tobata, misto de motoca com trator, ícone dos colonos japoneses e onomatopeia da lide nos peraus, a maioria chama mesmo é de caretinha, caretão, careta, jirico ou tuque-tuque. Tudo coisa boa de falar em voz alta, que é a única maneira de tu falar quando o colono tá montado na Tobata e tu tá vendo que ele não vai vencer a curva no baranco.
Ah, o r colono… Brando, frágil, ralo. Ambíguo: “Meu pai me deu um carinho de Natal”.
“E a Berenice levou um coridão daquele touro que nem te conto. Isto vinha que vinha!”
O touro colono, aquele atacado. Quanta história de vaca fugida, cadela invocada, ganso indignado. Sempre ativando o sufixo passivo: a cachorra odiada é na verdade a que odeia; o touro atacado é na verdade o que ataca.
E o isso/isto/aquilo dando agência aos fenômenos da natureza: “Isso chovia que não parava mais”.
Falamos do que vive o colono, mas e do que ele morre?
De pontada dupla, principalmente, ou palmonia, essas coisas que se pega quando tu sai sem uma malha, um casaquinho, na chuva. Criança, bem dizer, só pega cobreiro, pereba que se cura em benzedura. E velho que é velho morre de nó nas tripa. Mas só se não tomar a tempo uma talagada de óleo de rícino.
Falando em tomar: todo mundo, na Colônia, sabe o sabor do schnaps. E da graspa. E do bitter. Na Colônia, beber é medicina: tem elixir pra garganta, pra barriga, pra infecção, pra alergia. Mas a maioria bebe mesmo porque são uns tchuco.
Não sabemos como se diz bebum em alemão, em polaco, em russo. Na dúvida, os colonos bebem em português mesmo.