A rainha está viva

POETA MUNICIPAL –

Senhores e senhoras

reunidos nesta praça:

vou contar-lhes uma história

que é de glória e de desgraça.

Era uma vez a menina

que na roça virou moça

e esta cidadezinha

lhe reconheceu a força:

a Beleza, com bê maiúsculo,

que resolve todo imbróglio,

sem sequer mover um músculo

a não ser dos próprios olhos.

Mas a moça, insatisfeita

com uma glória tão banal,

resolveu sair de cena

num gesto sensacional:

colocou-se, tão esplêndida, 

no alto do campanário,

e, com esperteza tênue,

deixou-se cobrir de orvalho.

Aquelas gotinhas puras

como lágrimas de criança

realçaram sua candura

dando a ela ar de santa.

Mas, inevitavelmente,

penetraram-lhe no peito

e aninharam-se no ventre,

dando luz a um ouroboros:

como cobra que, negando,

qualquer alimento externo,

a Rainha, se acoitando,

se nutria ad eternum.

.

A Rainha aparece na escada-torre.

.

Vejamo-la neste momento,

tratemos de compreendê-la,

pois assim resolveremos

o mistério que a rodeia.

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