Esse livro é um gesto de busca pelo entendimento completo, em três dimensões que se multiplicam.
A primeira está nos versos: o autor (além de saber expressar sentimentos e ideias – a matéria bruta da poesia) estudou técnicas poéticas, de modo que não será fácil acusá-lo de simplesmente botar uma frase em cima da outra para caracterizar um poema.
A segunda é a tradução, que não apenas amplia o alcance dos versos a um maior número de leitores, mas também apresenta uma proposta acerca da tradução em si: note como as imagens se espelham e se refratam de uma língua para outra, como às vezes basta uma simples alteração sintática para resolver um dilema lexical. O autor dá uma prova de que traduzir poesia não apenas é possível, mas é genial.
A terceira dimensão é a do amor. Amor por uma mulher, pela linguagem e pela arte literária. Aqui a conjunção se revela completamente: a tradução do amor em versos, dos versos em duas línguas, das línguas em beijos… Pura poesia, puro prazer.
Isso é o que eu tinha para dizer sobre o livro do Augusto, quando ele me convidou para fazer a orelha, em 2022. Continua sendo o que tenho a dizer hoje, um ano depois. Vim aqui só dar uma reforçada, na esperança de que a obra encontre seus críticos, seus leitores.
“Eu só pensei em fazer disso um livro quando tive a ideia da tradução. Porque vislumbrar o projeto concluído me fez pensar que talvez pudesse interessar a outras pessoas.”
O Augusto tem esse discurso desde que o conheço, há 20 anos. É uma postura coerente. Fez com que ele conseguisse esperar muito para publicar o primeiro livro. Surpreendentemente um livro de poemas. Ele esperou não apenas ter algo a dizer que pudesse ser interessante ao resto do mundo. Ele esperou que isso fizesse parte da vida profissional dele. Como ele mesmo diz, só decidiu publicar quando conseguiu juntar a literatura (a brincadeira) com a tradução (o trabalho). Para se profissionalizar na literatura, ele apelou para a profissão que ele já tinha. Só aí ele se permitiu brincar. É o legítimo unir o útil ao agradável. Ou a infância com a adultez.
O Augusto não é bobo. Também não quero ser. Li o livro ano passado, li hoje de novo e vou ler com o mesmo gosto quando ele for reconhecido como a obra original que é.