Como ser irmão

A Cristiane tinha ideias muito avançadas. Quando o Cristiano, irmão dela, apareceu em casa dizendo de peito cheio que ia pra Porto Alegre, ela inventou que ia para os Estados Unidos. 

O Cristiano olhou humilhado. Ele simplesmente não tinha pensado que podia sair da província.

A Cristiane, de fato, conheceu um hot-doger pela internet e se bandeou pra América. Isso foi antes do sucesso da dupla Osama & Obama. Da última vez que contei, ela estava grávida do quarto baby.

O Cristiano, por sua vez, engravidou a Suéli da Suelí, se meteu com uns troços, foi preso, foi solto, bebeu e capotou o chevette. Isso antes do bug do milênio.

Já antes da Queda do Muro, minha irmã e eu também tivemos uma altercação fraterna. Ela disse: “se tu não parar de me inticar, vou te mandar pra São Paulo”. E eu tentei responder à altura: “vou te mandar pra Ana Rech!”

Pra quem não sabe, São Paulo é um município brasileiro do estado de São Paulo. Ana Rech é um bairro de Caxias, onde fica o hospício Paulo Guedes.

A tia que estava acompanhando o mimimi entre mim e minha mana declarou a vitória da menina. Afinal, em relação ao bairro Século XX, São Paulo era bem mais distante do que Ana Rech. Mas isso do ponto de vista lógico, calculado em léguas e sesmarias. Do ponto de vista psicológico, mandei minha irmã para um lugar mais pior, como se dizia. 

Quanto mais analiso essa cena, mais pior me pareço. Minha irmã me mandou pra São Paulo, onde vivem os únicos escritores profissionais do país. Eu podia estar lá fazendo roteiro de tv, falando “você” com naturalidade. Minha irmã colocou um São antes do meu nome. Me destinou à santidade, enquanto eu a destinei à insanidade.

Hoje ela mora em Berlim. E eu acabo de ver o Taylor, filho do Cristiano com a Suéli, passar a toda com sua moto rebaixada, escapando do Anderson, marido da Keila, com quem o Taylor fez um filho, enquanto o Anderson estava na cadeia, antes do 7 a 1.

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