Uma vez conheci uma galinha azul. Baixinha, delicada, tinha um tênue penacho carmim e um elegante pescoço pelado. Ciscava tranquila, uma bailarina perto da gente. Olhava como se cumprimentasse um vizinho.
E dava ovos azuis. A gema mais dourada do terreiro. Um céu, aqueles ovos. O sol no meio deles.
Não pôde viver muito tempo, a Azulinha. Algum monstro noturno lhe chupou o sangue pelo pescoço. Mas galinhas são seres transcendentes como gatos, não me entreguei a melancolias. Fiz um poema.
Galinha de ovos celestes,
que hoje faria três anos:
quanta alegria tu deste
a este pobre paisano!
.
Eras tão inteligente,
comias na minha mão.
Hoje tuas descendentes
honram tua tradição.
.
Onde quer que tu estejas
empoleirada no Cosmos,
sei que com toda certeza
segues botando teus ovos.
.
Quando chegar minha hora
levo-te minha lavagem;
mas só me resta agora
render-te esta homenagem.