Entre a Antares e a Sírius, está a Camaleão: uma constelação em que se pode escutar talian e hunsrik. Se tu sabe falar essas línguas, a chance de conseguir desconto na bergamota e no queijo se expande estratosfericamente.
É um método científico que estudo desde meus tempos de supernova, porque minha vó me levava toda semana na feira do bairro Cruzeiro, em Caxias, onde as ruas têm nomes de astros que duram mais do que quinze minutos de fama.
A feira do agricultor, pra minha vó, era um grande movimento de translação. Ela ia que nem estrela, fazendo várias heliopausas para cumprimentar bem mais do que Três Marias. Distribuía beijos com seus astrolábios e percorria todo o meridiano para comprar betelrabas e aldemaçãs no Seu Zênite. Depois, recuava meio raio atrás das abóboras celestes de Dona Nadir. Aí voltava a avançar até o centro da massa. Eu, poeira cósmica, ia orbitando em torno dela.
Engana-se quem, de longe, vê aquele caos e acha que vai ser sugado por um buraco negro. Mas tampouco é preciso ser físico para entender as rotações na feira dos agricultores. Existe uma divisão simples naquela Via Láctea. De um lado, fica o polo de jaleco verde, em que gravitam os produtores da própria Terra. Do outro, fica o polo de jaleco azul, em que se posicionam os asteroides que revendem produtos de outros campos magnéticos.
A todo alienígena que me pergunta o que fazer em Galacxias, eu indico a rota do Cruzeiro: sextante à tarde, atrás do ponto cardeal católico. Não tem erro de cálculo nem risco de desastre. A feira funciona mesmo em dias de tempestade cósmica. E, em troca de uma cerveja puro Marte, me ofereço para ser guia de qualquer mochileiro com toalha na mão.