Meu nono, aos noventa anos, a cada pontada de dor no braço se lembrava de quando era guri e tinha que arrastar toras no interior de Vila Oliva, fazendo elas descerem pelo arroio Macaco até alguma serraria. Aí elas seriam transformadas em “taubas tão bonitas”, como diria Gildo de Freitas, ídolo do meu vô e dos peões de sua época.
Agora seria preciso repor aqueles pinheiros que nossos antepassados derrubaram.
Caso não tu não seja uma gralha azul, vai precisar usar tuas próprias mãos. O ideal é plantar pinhão em lua crescente ou cheia, depois de um aguaceiro, nos meses sem a letra r. A semente deve ser enterrada em ângulo de 45° a nordeste, com até um palmo de profundidade, onde bata o sol da manhã. Se não puder ser nessas condições, planta igual, que é capaz de nascer.
Existem jovens engajados que saem todo inverno com os bolsos cheios de pinhões e não podem ver um pedaço de terra que já saem enterrando uma sementinha nele. Eu também já tive minha fase de plantador radical: uma vez, em Florianópolis, fui enterrar pinhões na beira da Lagoa da Conceição. Aí passou um colono de Ana Rech. Me olhou, pousou a roçadeira no chão e, com pena, me informou que lugar de pinhão é na serra.
Tentei explicar que minha motivação, ali, era mais simbólica que prática. Que eu estava plantando pinhão na ilha por saudade da colônia. Ele retrucou me convidando pra roçar os gramados manezinhos, que era o que ele estava fazendo naquele mês de férias:
— Vê bem se vou ficar um mês parado na praia…
Agradeci (“Vê bem se vim pra Floripa roçar”) e fiquei pensando que esse negócio de plantar pinheiro, mesmo na serra, é sempre uma aposta vaga no futuro. Não dá pra esperar que um dia vamos comer os pinhões da árvore que plantamos. A gente planta para os netos, nem que sejam dos vizinhos. Nem que sejam manezinhos.
A vantagem é que plantar pinhão não dói. A não ser que tu te abaixe sem flexionar os joelhos, forçando a lombar na hora pôr as sementes na terra.