Este é um exercício de literatura definicional, um jogo baseado na Oficina de Literatura Potencial (OuLiPo). O objetivo aqui é reescrever a primeira parte do Hino Nacional da República Federativa do Brasil (um poema de Joaquim Osório Duque Estrada, de 1831) a partir de definições encontradas nos dicionários. As obras de referência foram o Houaiss, o dicionarioinformal.com.br e a minha cabeça. A versão original vocês conhecem.
Perceberam, pelo sentido da audição,
no tranquilo espaço situado
no contorno externo imediato do Ipiranga,
a reclamação veemente de grande ressonância
feita por um conjunto de pessoas arrojadas ao perigo
que falam a mesma língua e têm costumes em comum.
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E, neste ponto determinado do tempo,
a estrela central do sistema planetário
no qual se situa a Terra,
pertencente à independência,
em forma de partícula emitida
por um corpo luminoso e resplandecente,
espargiu luz no espaço
em que se localizam e se movem os astros,
sendo esse espaço pertencente
ao país em que se nasce.
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Se, com um dos dois membros superiores dos quadrúmanos,
que vai do ombro até a mão
(sendo esse membro de constituição robusta,
cujos músculos são bem desenvolvidos),
nos saímos bem ao granjear para nós
o empenho do fato de não existir
diferença de qualidade ou valor,
em tua prega sinuosa que pode ficar a descoberto
– oh! conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo
em face da autoridade política! –
a nossa região do tronco que vai do pescoço ao abdome
dirige provocação à autêntica interrupção definitiva
da vida de um organismo.
.
Oh! tão querido e excessivamente venerado
local de nascimento de um grupo ou de um fato
que interessa a uma coletividade!
Saudação formal, saudação formal!
.
O maior território nacional da América Latina,
uma fantasia marcante,
uma descarga elétrica ardente entre duas nuvens,
com afeição profunda a outrem
e com confiança em coisa boa,
vai para baixo até o lugar onde nascem plantas,
contanto que se destaque o espectro
de um dos clubes de futebol de Belo Horizonte
em teu lindo, sorridente e claro espaço infinito
onde se movem astros e estrelas.
.
Monstruoso devido à origem de si mesmo,
o senhor é algo admirável, vigoroso,
coisa grande desprovida de temor –
e aquilo que ainda está para acontecer
reflete essa magnificência.
.
Desejoso ambiente fértil para a sobrevivência,
no meio de milhares que não sou eu,
é você, conjunto de brasas,
oh, venerado território do pai!
Você é progenitora delicada
dos rebentos desta compostagem,
tão querida localidade natal,
carvão ardente!