Meu tocaio Paulo Marmentini estava lendo A lenda do corpo e da cabeça, onde se explica a origem de nomes como Tristeza, pro bairro, e Dilúvio, pro arroio, e me pediu pra fazer algo assim sobre os topônimos da serra.
A lenda do corpo e da cabeça
1. O bandoleiro Paco
Na antiga casa do Ardelino, onde ficava o açude, botaram um marco. Ali um louco matou um homem. Cortou fora a cabeça com um machado. Tem uma cruz lá, alguém sempre leva flores. Depois que ele cortou fora a cabeça, jogou longe, porque tinha medo que ela voltasse a grudar novamente. Não tem nada a ver com o bandoleiro Paco.
Rios aéreos, cidade baixa
Décadas atrás, fui amigo de um grupo que se propunha a fazer literatura explorando apenas a banalidade. Um exercício recorrente era escolher de modo aleatório uma pessoa na rua e escrever listas de possibilidades sobre a vida dela. Por exemplo, um homem esperando um ônibus: está indo pra casa, onde o espera um filho desempregado; se fosse meu vô, iria para o INPS; quando criança, queria ser gari ou vendedor de gás, só pra ficar dependurado num caminhão; vai entrar no ônibus e continuar o assunto de ontem (rios aéreos) com o motorista.
Resenha da Ospa
Era uma vez um guri, lá do interior, que na casa dele tinha uma geladeira que pegava a rádio Cultura, depois das sete da noite de domingo.
Certa vez, ele estava tomando mate e comendo rapadura de melado, aí a mulher da rádio anunciou que, dali a uns dias, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre ia fazer um concerto.
Professor Faraco
Uma vez me perguntaram o que eu gostava de ler e eu disse Sergio Faraco. Riram porque liam, diziam, Tchekov, Hemingway. Livros complexos, diziam. Daí eu criei vergonha e fui ler Tchekov, Hemingway. Bem tranquilo. É tipo as coisas que o Faraco conta, só que na Rússia ou na França.