Como escrever uma crônica

A crônica, gênero literário gabado nacionalmente como o gênero no qual somos os fodões, nasce da antiga ambição jornalística, muito antiga, de ser autoral. Os jornalistas de chapéu e relógio no colete queriam na verdade ser poetas de ponto e vírgula; o emprego no jornal era apenas um emprego. E assim, procurando “diversificar os tons com que somos capazes de ver os fatos”, misturando o relato cru com o comentário engraçadinho, esses tios acabaram dando ares de arte pra crônica, um gênero mestiço, fenômeno substancialmente sul-americano e adverbialmente brasileiro.

Mentira. Mas faz parte.

Para escrever uma crônica atual, misture propaganda (a frase entre aspas no parágrafo acima foi extraída do excelente Ganhando tempo, de Diogo Bonato) e resenha (um livro de crônicas urbanas sobre a passagem do tempo, uma prova de que esse gênero literário se alimenta mais da preguiça e da ânsia opinativa do que da arte), fazendo uso de longos parênteses.

Mas não esqueça a concisão. A virtude da crônica. Parágrafos curtos. Frases rápidas. O sentido num piscar. Tom afirmativo. Sei o que eu estou dizendo. Não enrolo. Não tenho tempo. O leitor não tem. 

Ou faça prosa poética, fale mal de algum governo, conte uma anedota. 

“Acaba de pousar no prédio em frente. Está em cima do morro mais alto do bairro. Está de olho, o urubu da crônica…”

Assuntos mais comuns numa crônica:

– Escrever uma crônica;

– Qualquer polemicazinha;

– O cotidiano tal como visto por um imitador de Rubem Braga;

– Autoficção.

Vantagens da crônica:

– Caber numa lauda;

– Poder ser lida em um minuto;

– Poder ser escrita em um dia.

Desvantagens da crônica:

– O que é uma lauda?

– Ser datada, por mais que a gente procure ser atemporal.

Grande abraço pro Jowilton que está lendo isso. Até semana que vem.
Revista Menas, 19 de maio de 2015.

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